Afinal, o que têm os EUA e o Uruguai em comum? A princípio nada, um fica na América do Norte e o outro na América do Sul. Um é o maior país em extensão, no tamanho da população, sem falar no seu poderio militar e na sua influência global. O outro, em termos comparativos, é quase o inverso em tudo. Diante da diferença gritante entre os dois, como curiosidade cabe uma indagação que poderia resultar numa reflexão política, teriam por acaso algo em comum: fora eleger seus próximos presidentes em novembro.
Nos EUA, por exemplo, ninguém sabe o resultado da eleição. Um processo eleitoral confuso, que perdura no tempo e que pode eleger tanto um democrata como um republicano. As grandes questões que tocam no povo americano, aparentemente, ficarão como estão. A incerteza quanto ao futuro do país continua, estudos mostram que em 2050 a maioria da população será latina. O que irá em breve pesar no resultado eleitoral e na relação dos EUA com os latinos. Outra preocupação dos americanos é o crescimento da economia asiática e os seus efeitos na geopolítica global.
Por outro lado, no Uruguai temos poucas incertezas. A Frente Ampla se mostrou unida e consolidada, por pouco não vence no primeiro turno. Em apenas duas décadas se construiu uma história política única na América Latina. O Uruguai, um dos poucos países sem reeleição, enfrentou uma forte ditadura. Partidos tradicionais que se revezavam no poder, perderam espaço para uma Frente Ampla de oposição. Através dela foram criadas as condições políticas para eleger em 2004 Tabaré Vasquez e depois Pepe Mujica. Os uruguaios frentistas voltaram a eleger Tabaré Vasquez e, ao que parece, agora em novembro devem eleger Yamandú Orsi, do grupo-político do ex-presidente Mujica.
O Brasil, obviamente acompanha as duas eleições com atenção. Seu papel de liderança na América Latina, apesar de alguns deslizes na diplomacia, é inconteste. Uma aproximação com os democratas nos EUA é visível, mesmo o presidente Lula tendo desde do início se mostrado contra as guerras em curso alimentadas pelo governo Biden. Numa avaliação mais ampla, parece evidente que Trump traria mais dificuldades para uma relação de normalidade entre os governos. Nessas horas o pragmatismo decide.
Quanto ao retorno da Frente Ampla ao governo do Uruguai, é a volta dos que sonham juntos. Sonhos não morrem. Quando Tabaré Vasquez se elegeu em 2004, eu fazia parte do Parlamento do Mercosul e participei do processo eleitoral como Observador Internacional. A escolha do candidato, um médico reconhecido internacionalmente, não foi um processo fácil. O que vivenciamos foi um grande esforço de superação para que os partidos e grupos políticos entendessem que o momento exigia compreensão, desprendimento e unidade.
Lula sabe melhor do que ninguém a importância de se ganhar apoio, além dos que já tem. Nada de muito diferente do que quando se elegeu a primeira vez em 2002 e se reelegeu em 2006. Quando precisou ampliar seus votos em 2022, não lhe faltou apoio. Em janeiro de 2023, logo depois da posse, sob a ameaça de um golpe, para defender a DEMOCRACIA, rapidamente a sociedade agiu como uma “Frente Ampla” ao defender seu mandato. Até quem não votou nele, ficou do seu lado. Lula sabe que as pressões internas persistem e que o Brasil está sendo disputado. Afinal, foi durante seus governos que o país ficou entre as 10 maiores economias do mundo. O país está na vitrine, disputá-lo faz parte do jogo democrático. Só não precisa ser com negacionismo, ataques pessoais e descaradas mentiras.