Não é habitual o jornalista do Linha Viva assinar a Tribuna Livre. Mas uso esse espaço para registrar não institucionalmente um sentimento pessoal sobre a greve na Celesc. Nesses dezenove anos de atuação na empresa, nunca tinha visto uma onda de solidariedade e união tão forte como a dos últimos dez dias de greve. Trabalhadores antigos e novos estiveram unidos sem arredar o pé dos portões da Celesc em prol de uma causa, mesmo sabendo que o risco de desconto dos dias não trabalhados poderia pesar até sobre aqueles que não teriam vantagem alguma ao fim das negociações do Acordo Coletivo.
Colegas se revezaram à noite, no frio, na chuva, sob vento, sob calor extremo, na luta por direitos. Colegas vieram no final de semana nos piquetes trazer bolos, doces, cucas, salgados feitos com muito amor. Não teve tempo feio que desanimasse ninguém.
Confesso aqui, nos primeiros dias no piquete da ARFLO, que desacreditei que a solidariedade e a união fossem prevalecer por mais que sete dias. Imaginei que muita gente logo cansaria. Talvez a própria diretoria da empresa não acreditasse no nosso fôlego e disposição. Pois foram, até o momento que escrevo esse texto, dez dias ininterruptos de garra, coragem e vontade de permanecer unidos. E se fossem necessários mais dez dias, tenho certeza que a categoria permaneceria unida. Em diversos momentos, me questionei: o que leva os colegas que já têm anuênio a estarem aqui lutando? Será que eles se dão conta do risco de desconto dos dias parados e nenhuma vantagem financeira ao fim de tudo isso?
O celesquiano e a celesquiana provam – especialmente para a diretoria – que dinheiro algum paga o sentimento de pertencimento a uma classe. Que a fraternidade que construímos dentro dessa empresa fala mais forte. Que não vamos esquecer nenhum colega para trás e vamos seguir lutando até o fim pela igualdade de direitos.
O resultado final ainda não foi o esperado por nós. Mas tenho fé que seguiremos dispostos a lutar e conquistar a isonomia. A nossa unidade não pode cessar nesse momento crucial.
Às pessoas que têm a caneta na mão e que chamamos de colegas de trabalho, saibam que, nos portões da empresa, a conversa é que seus nomes serão lembrados por desafiarem a unidade da categoria. Vocês têm um ano para mudar essa percepção de seus colegas celesquianos.