Há 13 anos, o artis ta e ativista antirracista Bruno Barbi, usa o pincel e a tinta para dar vida principalmente às caixas de energia e telefonia da ilha. Há pelo menos 34 obras espalhadas só no centro da capital, Bruno não tem o controle exato de quais artes foram removidas e quais permanecem, porém, ele frisa que poucas restaram. “Às vésperas do 20 de novembro, esse ataque agrava muito mais o quadro de denúncia. Eu sei que a ofensiva foi violenta, imagino que todas as artes do Centro foram retiradas. Com esperança, talvez restem uma ou duas”.
Todas as obras do artista são de persona lidades negras à excessão da arte de Vilson Groh, ativista dos direitos hu manos. O artista explica essa decisão, “a preservação, o resgate da memória, do pertencimento e da representatividade.É preciso ocupar todos os espaços, sentir acolhido e pertencentes à cidade”.
A escolha geográfica também é proposital. “O trânsito de pessoas ali é muito grande. Para a cidade, pro centro, inclusive fazendo uma conexão que eu considero importante entre o maciço do morro da Cruz e o Mocotó, devolvendo de alguma, forma esse território centrificado, a partir da especulação imobiliária, mas que foi construído por mãos negras ao longo da história, no século 18 a 20”.
Sobre o apagamento das algumas obras de arte no centro, tanto as exibidas em prédios quanto às de Bruno, em caixas de energia e telefone, o artista é enfático: “Não é coincidência que as personalidades gidas por esses apagamentos, tanto nas minhas pinturas em caixas de de telefonia quanto nos grandes murais”. A justificativa dos órgãos públicos para apagar são as infiltrações, argumento que Bruno acredita não passar de uma desculpa. “As infiltrações são a justificativa protocolar e formal. E eu acho que elas não dão conta dos reais motivos de uma cidade estruturalmente racista. São prédios com dezenas e dezenas de anos, muitas vezes alguns deles próximos de prédios centenários, que poderiam ter uma previsão de reforma antes de receber uma pintura dessa importân cia”.
Os trabalhos de Barbi normalmente são feitos com iniciativa e investimentos próprios. “Na medida em que o meu trabalho vai evoluindo, eu passo a criar rostos e a fazer homenagens póstumas e por fim, fazer homenagens em vida.E tem um aspecto importante aí, porque essa arte é desgastada pelo sol, pela chuva e pela intervenção humana.Então muitas vezes eu repinto, cubro e faço nova pintura”.
Ele conta uma experiência que teve em 2021, quando participou de um projeto minimamente remunerado. “Isso nunca tinha acontecido antes e serviu, sobretudo, para eu trabalhar de forma mais sistemática, organizando um cronograma e uma agenda e com material de mais qualidade. A remuneração foi irrisória, mas desse ponto de vista, ela estimulou um trabalho longo, com prazo e com objetivo deter minado”.
Bruno esclarece que não pinta obras em prédios devido à sua condição física: “O meu quadro de saúde me coloca numa condição de defi ciente de 2011 para 2012, no mesmo momento em que eu saí de uma profissão formal e migro para as artes plásticas, e pró ativismo. Então é um momento, é contraditório nesse sentido de entrega, mas também de autocuidado e a minha saúde, ao longo dos anos, sobretudo depois da pandemia, ficou muito mais fragilizada. Não tenho saúde para fazer um mural desse tama nho”.
Algumas das perso nalidades que o artista pintou são: Márcio de Souza, Solange, Adão como rapper negro, Rude como apresentador de TV, Ed soul como mes tre de capoeira, mestre Jimmy como liderança anti racista, líder do grupo maracatu arrasta ilha, Chen de Alencar e outras personalidades impor tantes como Maria Anto nieta de Barros.
“Eu coloco a minha arte à disposição de uma causa e à disposição da cidade”, declara Bruno.