Dia do patrimônio cultural e a defesa da antiga rodoviária de Florianópolis

Porquê não permitir que um prédio com tantas histórias vire pó

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Ilustração: ChatGPT. Imagem: Google Maps.

Dia do patrimônio cultural e a defesa da antiga rodoviária de Florianópolis

Porquê não permitir que um prédio com tantas histórias vire pó

Na esquina das avenidas Mauro Ramos e Hercílio Luz, em Florianópolis, está um edifício que já foi o lugar onde muitas pessoas pisaram pela primeira vez na capital: a antiga rodoviária. Projetada no final dos anos 1950, inicialmente como Mercado Municipal, foi rapidamente adaptada para se tornar a primeira rodoviária da capital. Durante mais de duas décadas, foi o ponto de chegada e partida de sonhos, despedidas, reencontros e memórias de quem transitava pela cidade.

Um local tão histórico com sério risco de desaparecer. Um dos interessados nisso, a prefeitura da capital, defende a demolição devido à “danos estruturais”, argumento este já desmentido pela Defesa Civil em um laudo de 2023, e pelo Corpo de Bombeiros neste ano. Outra motivação para a destruição do prédio seria o abandono, que culmina na ocupação de moradores de rua e supostos usuários de drogas no local. O abandono, porém, acontece pelo desinteresse político de transformá-lo, por exemplo,  em um equipamento público multifuncional. A antiga rodoviária poderia se tornar palco de cultura, lazer, comércio e serviços, devolvendo ao centro da capital um espaço de pertencimento.

Mas, acima de tudo, deveria ser preservado por ser um patrimônio público. O edifício é um exemplo raro da arquitetura moderna dos anos 1950 em Santa Catarina, que introduziu na cidade soluções construtivas pioneiras para a época: como o uso de arcos e abóbadas em concreto armado externamente com vigas internas de madeira colada para vencer os grandes vãos livres, o que permitia amplos espaços internos sem interrupções estruturais, ideais para atividades comerciais e, posteriormente, para circulação de ônibus. conciliava conforto térmico e ventilação natural, reforçando a concepção funcionalista da arquitetura moderna.

A mobilização popular contra a demolição já começou: manifestações, oficinas de projeto e até um abraço coletivo reuniram cidadãos em torno da defesa da rodoviária. Professores da UFSC, entidades culturais e até mesmo o Instituto de Arquitetos do Brasil  se uniu à luta pela importância de preservá-la. O Instituto enviou um ofício solicitando a revisão do processo de demolição à Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Santa Catarina – IPHAN/SC.

No domingo (17) foi comemorado o Dia do Patrimônio Cultural, homenagem a Rodrigo Melo Franco de Andrade, advogado, escritor e jornalista que criou e consolidou em 1937 o SPHAN (atual IPHAN), órgão responsável pela proteção, fiscalização e promoção dos patrimônios culturais públicos.

Demolir a antiga rodoviária é um atentado contra a memória urbana e um desrespeito à cidadania. Florianópolis precisa escolher: será uma cidade que apaga suas marcas para ceder ao lucro imediato, ou uma cidade que valoriza sua história e o direito à memória para impulsionar um futuro mais igualitário, dinâmico em termos culturais e alinhado ao desenvolvimento urbano da cidade?

Acesse o Ofício do Instituto de Arquitetos do Brasil no QR code abaixo e participe da luta pela preservação da memória da ilha:

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