Há exatos 45 anos…

TRIBUNA LIVRE | Por Paulo Sá Brito, Celesquiano aposentado. Foi representante dos empregados no Conselho de Administração e na Celos e autor de livros com histórias da Celesc e da Celos, além de romances

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 Há exatos 45 anos, no dia 8 de janeiro de 1980, eu vim a Florianópolis assinar contrato de prestação de serviços para a Celesc. Viemos eu e Loreno Ruaro Caldart, dono de uma das empresas que assinaria o contrato. Loreno e eu saímos de Curitiba ao amanhecer do dia, vestidos como costume entre curitibanos quando se trata de uma solenidade: terno, gravata e colete. 

Algumas surpresas me aguardavam naquele dia.

 As primeiras foram logo na saída, quando Loreno me apanhou em casa com um Ford Galaxie lindíssimo. Eu nunca havia entrado em um carro daqueles. As poltronas eram maiores que o sofá de minha casa e o conforto incomparável com o do meu fusquinha. Assim que começamos a viagem eu não me contive e elogiei aquele bólido. O câmbio de troca de marchas era na barra de direção e Loreno, feliz com a admiração, tascou mais uma surpresa “agora você verá que incrível é um carro de apenas três marchas, vou colocar a terceira e iremos toda a viagem sem trocar, subindo ou descendo a serra”. 

Chegamos a Florianópolis por volta das 10 horas da manhã e fomos direto para a Celesc, na Rua José da Costa Moellman, em frente da hoje chamada Praça Tancredo Neves. A assinatura foi na sala do presidente da empresa, Paulo Afonso de Freitas Melro. Mais uma surpresa, o presidente vestia uma alinhada camisa de linho branco de mangas curtas. Mangas curtas! Os demais representantes de empresas que assinavam os contratos, todos bem-vestidos, mas nenhum sequer de gravata. E nós de terno, gravata e colete! 

Felizmente no Galaxie e na sala do Pau lo Melro o ar condicionado não permitia que suássemos. Mas saímos a pé, para ir até o departamento de engenharia de distribuição, na Rua Tenente Silveira, no Edifício Hércules. Antes, Loreno resolveu tomar um cafezinho no Senadinho. Mais uma surpresa. Nós dois suávamos em bicas debaixo da gravata e colete, diante do sufocante calor senegalês daquele dia. As pessoas nos espiavam com ar de assombro. Chegavam a parar e nos esquadrinhar, como se fôssemos dois ETs bebendo café quente, em pé, sob um sol escaldante capaz de fritar nossos miolos. Creio que se fossem, realmente, dois extraterrestres não causariam tanto espanto.

 Deixamos pra ir ao departamento de engenharia à tarde e resolvemos almoçar antes em um restaurante chique (não recordo o nome), creio que situado onde hoje é o Bobs, na Rua Trajano (na época ainda não haviam inventado os restaurantes por quilo). Pelo menos naquele restaurante é requintado o ar condicionado gelava até o pensamento. E nós dois, típicos curitibanos, apenas penduramos os paletós nas cadeiras, mas mantivemos gravata e colete.

Depois do almoço foi um pulo até o Hércules, onde também havia ar condicionado. Mas causamos mais surpresas e deixamos pasmos os empregados do 8º andar, todos abismados com aquela vestimenta totalmente inapropriada. Anos depois, Cátia Rosane Dias, que seria minha secretária por um longo período, confessou que só não riram daqueles dois enfatiotados por questão de respeito.

 Demorei um bocado até me acostumar com essa informalidade característica de Floripa (na época ainda não se usava este apelido). Nunca mais na vida vou vestir um colete! E hoje, passados 45 anos, penso que não causou espanto e nem provocou cochichos disfarçados. Pode ser por outros motivos, mas não por causa de terno, gravata e colete.  

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