Não existe ESG sem paz: A crise humanitária em Gaza e a hipocrisia corporativa

TRIBUNA LIVRE | Por Viviani Bleyer Remor, socióloga, trabalhadora aposentada da Celesc e ex-dirigente do Sinergia

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Os princípios ESG (Environmental, Social, and Governance) são frequentemente celebrados como pilares do capitalismo responsável, promovendo sustentabilidade, justiça social e ética corporativa. No entanto, em meio a crises humanitárias como a da Faixa de Gaza, onde a guerra e o bloqueio econômico perpetuam a fome, a destruição ambiental e o colapso social, fica claro que não há ESG possível sem paz. Enquanto empresas e governos ocidentais se orgulham de suas políticas sustentáveis, muitos continuam financiando ou silenciando-se diante de conflitos que destroem vidas e ecossistemas. 

Este artigo critica a seletividade do ESG e argumenta que a verdadeira sustentabilidade exige paz, justiça e coerência ética. 1. A Crise em Gaza: Um Desastre Humanitário e Ambiental A Faixa de Gaza vive uma das piores crises do século XXI: – Mais de 90% da população enfrenta fome extrema (ONU, 2024). – Infraestrutura destruída: sistemas de água, energia e saúde colapsaram. 

– Terras agrícolas contaminadas por bombas e resíduos de guerra. – Bloqueio econômico que impede reconstrução e acesso a recursos básicos.  

Nesse cenário, como falar em “S” (Social) quando crianças morrem de desnutrição? Como discutir “E” (Ambiental) quando rios e solos estão envenenados por armamentos? E onde está a “G” (Governança) quando a comunidade internacional falha em garantir direitos humanos básicos?

  1. ESG em Zonas de Conflito: Uma Contradição?

Muitas empresas adotam políticas ESG em mercados estáveis, mas ignoram ou até financiam indiretamente conflitos:  

– Bancos e fundos de investimento que lucram com a venda de armas. 

– Empresas de tecnologia que fornecem sistemas de vigilância para regimes opressores. 

– Multinacionais que operam em assentamentos ilegais, violando direitos humanos. Se o ESG fosse realmente aplicado de forma universal, essas corporações deveriam: 

 Cortar relações com negócios ligados a violações de direitos humanos. 

– Exigir pressão diplomática para cessar-fogo e acesso humanitário. 

– Investir em reconstrução sustentável, não apenas em lucros de curto prazo. 

  1. A Hipocrisia do “Capitalismo Consciente” 

Algumas empresas usam o ESG como marketing, mas não questionam as estruturas que perpetuam crises como a de Gaza: 

– “Greenwashing humanitário”: Doações simbólicas enquanto investem em indústrias bélicas. 

– Silêncio cúmplice: Temor de perder mercados ou enfrentar represálias políticas. 

– Falta de transparência: Muitos fundos ESG incluem empresas vinculadas a conflitos. Exemplo: Empresas que promovem “diversidade” em seus quadros, mas não denunciam o massacre de civis em zonas de guerra. 

  1. O Que fazer:  

Para que o ESG não seja uma farsa, é necessário: 

-Condicionar investimentos ao respeito aos direitos humanos. 

-Pressão real por soluções políticas, não apenas assistencialismo. 

-Transparência total sobre investimentos em indústrias ligadas a conflitos. 

-Apoio massivo a organizações humanitárias e de reconstrução. Não há sustentabilidade Sem Paz Enquanto Gaza queima, o discurso corporativo de ESG soa vazio. Não se pode separar justiça climática de justiça social, nem governança ética de responsabilidade política. 

Se empresas e governos realmente acreditam em sustentabilidade, devem agir para parar a guerra, acabar com o bloqueio e reconstruir Gaza de forma digna. Caso contrário, o ESG será apenas mais uma ferramenta de lavagem de imagem, enquanto o mundo assiste passivamente ao extermínio de um povo e de seu meio ambiente. 

Paz não é um detalhe no ESG — é a sua condição básica.

 

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