Resultado das eleições na Europa influenciará debate do saneamento no mundo

TRIBUNA LIVRE | Por Lucas Tonaco, Secretário de Comunicação da FNU, dirigente do Sindágua-MG, acadêmico em Antropologia Social e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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Surpresa para alguns, nem tanto para outros e um alívio para todos que querem um projeto de sociedade fundamentada em parâmetros de direitos sociais e direitos hu manos – o afastamento do projeto de ex trema-direita no Reino Unido e na França, e com liderança de agrupamentos de esquer da e centro-esquerda. Uma das grandes dis cussões que surgem é a inflação de preços de produtos e serviços – claro, há vários fatores que influenciam nisso, mas se tra tando de saneamento, o preço da água aumentou devido às privatizações feitas em governos de direita com a cartilha neolibe ral – que, agora, os que não reestatizaram, estão prestes a fazê-lo.

O primeiro caso é da França, que devido a discussões à esquerda, decidiu criar uma empresa pública em 2009, a Eau de Paris, para substituir duas concessões privadas que assumiram em 1984 o serviço de água. Nesse período de reestatização, Paris tinha como prefeito Bertrand Delanoë (Parti Socialiste – PS), o resultado foi evidente: as contas baixaram mais de 20%, o controle e a participação popular melhorou e, agora, um dos carros chefes para a propaganda dos Jogos Olímpicos de Paris, é a despoluição do Rio Sena. 

Não fossem as medidas contra a privatização, uma ideia praticada e elevada pela esquerda francesa, que agora não só liderou uma grande coalizão contra a extrema-direita, e que estará em evidência nacional, com líderes anti-privatistas Jean-Luc Mélenchon – que explicitamente batalha pela água ser bem comum e não mercadoria – terá como dizer o óbvio: privatização é a contramão quando o assunto é benefícios para populações, principalmente na preservação, qualidade do serviço e preço da tarifa de água. Portanto, a França agora terá como líderes, inclusive com discurso endossado nas urnas, aqueles que outrora fizeram e fazem o discurso contra as privatizações, pois na teoria e na prática foi e é comprovado, o desastre das privatizações do saneamento, e o povo parece cada vez mais saber disso. Outro caso recente é o Reino Unido: com a vitória histórica nunca antes vista, com 410 assentos, o Partido Trabalhista, de centro-esquerda, resultou em Keir Starmer como primeiro-ministro britânico. Um dos pontos na eleição no Reino Unido, assim como na França, era a inflação de bens e serviços, e eis um ponto interessante na discussão sobre saneamento: o preço das contas de água (tarifas), aumentará até 40%até 2030. Afinal, o descontrole da iniciativa privada no saneamento em Londres, a Thames Water, fez além da má gestão épica envolvendo paraísos fiscais e excesso de financeirização, uma dívida que chega a 14 bilhões de libras. Isso fez com que o parlamento discutisse abertamente a reestatização via nacionalização do saneamento em Londres, e desde de 2023, a própria imprensa britânica dá sinais que Keir Starmer vai prosseguir contra a privatização do saneamento. A expectativa permanece para que faça isso, pois, além da redução absurda no preço da água e maior qualidade, resolverá muitos problemas de uma vez só – entre eles, uma determinada herança maldita do neoliberalismo de Thatcher, que promove redução de direitos, aumento de preços após as privatizações e a sensação de piora na qualidade de vida dos britânicos.

 É evidente que as derrotas recentes da extrema-direita darão luz a um debate necessário: o mundo caminha para a reestatização dos serviços essenciais, especialmente nos lugares em que sofreram com as experiências das privatizações.

 Tanto no Reino Unido quanto na França está explícito o desejo do povo por políticas públicas pautadas na melhoria da qualidade de vida e controle popular e isso passa pela redução de preços de tarifas de bens essenciais, como água e energia. Portanto, necessariamente, o caminho por lá foi a discussão sobre qual projeto político emana isso. As urnas e o povo apoiam, portanto, líderes, discursos e programas não apenas contra as privatizações, mas também aqueles que reestatizar, que buscam por reverter os danos imensos feitos pelo neoliberalismo, sobretudo para as populações mais pobres e mais ainda quando se trata do bem mais essencial de todos: água.

 

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