Agricultoras que se expõem a pesticidas sem equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados tendem a desenvolver subtipos mais agressivos de câncer de mama, com piores prognósticos de tratamento.O câncer de mama é o que mais mata mulheres no Brasil, e a necessidade de prevenção é o mote da campanha Outubro Rosa.
No sudoeste paranaense, região produtora de alimentos, a incidência e letalidade desse câncer são maiores que a média nacional. Assim como no Paraná, Santa Catarina é um estado agricultor, e inclusive se tornou o estado com maior taxa estimada de casos de câncer de mama, 74,79 para cada 100 mil mulheres. Comparado com o Paraná, local da pesquisa, tem uma taxa estimada de 41,06 casos para cada 100 mil mulheres. Os dados são do Instituto Nacional de Câncer (INCA).
Embora os pesticidas sejam comumente associados aos grandes monocultivos do agronegócio, milhões de camponeses são reféns da narrativa de que só se produz comida com veneno.Por falta de informação e de assistência técnica, os cultivos orgânicos, sem agrotóxico, ainda são minoria. O Brasil tem 5 milhões de pequenas propriedades rurais e apenas 25.345 produtores orgânicos, segundo o Ministério da Agricultura – em 2011, eram 8 mil. Um dos entraves é que muitos programas de financiamento estão atrelados à aquisição de pesticidas.
O câncer de mama tem quatro subtipos. O menos agressivo e com melhor prognóstico é o luminal A. Este é o mais comum no Brasil e no mundo. No sudoeste do Paraná, o luminal A é minoria: entre 60% e 70% dos diagnósticos são dos subtipos mais agressivos, de pior prognóstico: luminal B, HER2 positivo e triplo negativo.
PREVENÇÃO
Em junho, entrou em vigor a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC), que estabelece diretrizes nacionais. Os números relativos aos casos específicos tratados durante a campanha Outubro Rosa desenham o tamanho do desafio da nova política.Outra preocupação são os homens trans, já que ainda não há dados robustos sobre a prevalência nessa população. A ciência também precisa entender se há impactos dos tratamentos hormonais no possível desenvolvimento da doença.
O câncer do colo do útero deve atingir aproximadamente 17 mil novos casos por ano no triênio 2023-2025. Ele é o terceiro tumor mais incidente na população feminina brasileira, com uma taxa de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres. Entre os pontos da resposta governamental que podem impactar diretamente no controle desse cenário estão as políticas de redução da incidência, a garantia de acesso ao cuidado integral, a melhoria da qualidade de vida dos pacientes e a implementação de um sistema de dados para todo o território nacional.
A nova política reforça a importância de medidas preventivas. No caso do câncer de mama, estima-se que cerca de 17% dos casos possam ser evitados. Essa prevenção envolve uma combinação de fatores e hábitos que passam pelos cuidados individuais, mas também por investimento em saúde pública e na qualidade de vida da população.
Informações: Juliana Passos, Nara Lacerda, Daniel Giovanaz – Brasil de Fato. Postado originalmente em: https://www.brasildefato.com.br/2021/10/18/outubro-rosa-conheca-relacao-entre-agrotoxicos-e-o-cancer-que-mais-mata-mulheres-no-brasil