A residência que serve como sede do Sinergia, no centro de Florianópolis, foi tema da página 4 em edições anteriores do Linha Viva. Na edição número 700, de 29 de maio de 2003, por exemplo, a casa foi lembrada em uma extensa matéria, que recordava as origens da região em que está localizada, a Chácara do Espanha, próximo à famosa Praça dos Bombeiros e ao Teatro Álvaro de Carvalho:
“Considerada uma região nobre da cidade, a Chácara do Espanha foi também loteada e nela foram construídos diversos sobrados com uma arquitetura eclética. ‘O Século XIX é o século do desabrochar do conhecimento, das ciências, impondo-se sobre as crendices, o misticismo. Na arquitetura, isso vai se traduzir em duas coisas: na profusão de ornamentos e no historicismo “, explica o arquiteto Dalmo Vieira Filho, no livro Memórias de um Patrimônio (Florianópolis, 2001). As construções trazem elementos romanos, características da arquitetura germânica e francesa, do art-noveau e do neoclassicismo, uma mistura de estilos que é a própria ‘cara’ do ecletismo. Num segundo momento – a partir da independência – o positivismo passa a adquirir motivos nacionais, realçando a cultura e as ‘coisas do país’, diz Dalmo. As construções são inspiradas no barroco religioso, típico das igrejas coloniais, com ornamentos, balaustradas, pilastras e cimalhas. Algumas destas características são ainda hoje percebidas nas casas que resistem à especulação imobiliária e ao tempo na Chácara do Espanha”.
A especulação imobiliária é a principal responsável pela derrubada de outras casas na rua Lacerda Coutinho e arredores, do mesmo estilo arquitetônico que a sede do Sinergia: “É uma casa do ano 1925. Hoje apenas três ou quatro casas do mesmo estilo resistem na região. Apesar de já termos recebido ofertas pela derrubada da casa, o Sinergia segue firme no compromisso de mantê-la de pé, compromisso firmado com a antiga proprietária, Sra. Ada Maria Mattar Valente, quando da aquisição do imóvel, em 23 de fevereiro de 1990”, explica Mário Jorge Maia, o dirigente sindical há mais tempo em atuação no Sinergia.
Vilson Pedro da Silva, que atua há 39 anos e cinco meses no sindicato, diz que começou a trabalhar no Sinergia ainda num endereço antigo: “Ajudei a trazer as caixas da antiga sede do edifício Dias Velho para cá. Sou da época em que as casas da região tinham muros bem baixos. Não havia necessidade de ter muros altos”.
Já Adriana Bunn trabalha há 33 anos na casa e lembra do período em que chegou: “Quando comecei a trabalhar aqui, as casas da região eram todas muito parecidas, no mesmo estilo. Quando entrei, recordo que pensava que era uma casa em que eu gostaria de morar. Hoje ficaram apenas duas ou três casas aqui na rua. Tudo foi tomado pela especulação imobiliária. Ela ficou com um valor sentimental a todos nós. Eu olho para ela como resistência”.
Tanto a área externa quanto a área interna mantêm muitos traços originais, como a escadaria de mármore e as colunas internas em estilo greco coríntio. De acordo com o Coordenador do Sinergia, Tiago Vergara, a meta até o próximo ano é fazer uma extensa reforma: “Pretendemos reformá-la, tanto interna como externamente, preservando suas linhas originais. Apesar do custo alto, a diretoria do Sinergia entende que esse é um patrimônio da cidade que merece ser preservado”.