A prática da terceirização na Celesc tem gerado preocupações significativas em relação à qualidade dos serviços prestados e à segurança dos trabalhadores. Como discutido em inúmeras matérias do jornal Linha Viva e nos discursos de dirigentes sindicais nos últimos meses, a crescente dependência de empresas terceirizadas para atividades essenciais pode levar à precarização do trabalho e à redução da eficiência operacional, encaminhando a empresa para a privatização.
Promessa cumprida ou campanha antecipada?
O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), assim como o seu indicado para a presidência da companhia, Tarcísio Rosa, falam repetidamente em entrevistas e em discursos, que não pretendem privatizar a Celesc porque ela é rentável e atende à população com qualidade. Mas a pergunta que ecoa nos corredores da empresa é: até quando? O que acontecerá quando a Celesc não puder mais cumprir os objetivos políticos do governador de plantão? A política de aumento progressivo da distribuição de dividendos da companhia levará a Celesc a ter que escolher quais investimentos realizar, já que ao ter que buscar recursos no mercado para realizar seus investimentos, inclusive os estratégicos, haverá um custo substancialmente superior. Ao aumentar a terceirização, a ponto de ter hoje mais empregados terceirizados – e precarizados – que próprios, será mantida a qualidade da distribuição de energia?
Após quase seis meses de implantação do novo sistema comercial, sem solução para boa parte dos problemas, temos mesmo um atendimento de qualidade à população? Não custa lembrar que há clientes que estão há quase meio ano com problemas reiterados nas suas faturas de energia, com códigos de barras errados, com valores cobrados equivocados, com dificuldades para efetuar o débito automático no banco, tendo que se deslocar para a loja de atendimento mais próxima várias vezes sem previsão de solução. E a imagem da Celesc, como fica nesses casos?
Trabalho análogo à escravidão?
Diversos especialistas apontam que a terceirização, embora promova a redução de custos a curto prazo, frequentemente resulta em um enfraquecimento das relações de trabalho. Os funcionários terceirizados, em muitos casos, enfrentam condições menos favoráveis em comparação aos empregados diretos, com salários mais baixos e menos direitos trabalhistas. Isso não só prejudica a força de trabalho, mas também impacta diretamente a qualidade do atendimento ao consumidor.
Recentemente, a CEMIG – concessionária de energia em Minas Gerais – passou a integrar a lista suja de empregadores, por possuir trabalho análogo à escravidão nas empresas contratadas. A Celesc não se preocupa com o risco de ingressar futuramente nessa lista? Deveria observar atentamente se contrata empresas que empregam eletricistas vindos de outras regiões do país sem todos os direitos, recebendo treinamento sem estarem contratados, conforme denúncia recebida pelo Sinergia. Quem fiscaliza esses contratos? Seria problema apenas de gestão ou é inerente à terceirização a precarização destes trabalhadores?
Além disso, a situação levanta questionamentos sobre a estratégia de longo prazo da Celesc. A utilização intensiva de serviços terceirizados pode ser interpretada como um passo em direção à privatização da empresa, um movimento que preocupa diversos setores da sociedade. A privatização, se concretizada, poderia significar a entrega do patrimônio público a interesses privados, com a possibilidade de ampliação da desigualdade e da precarização do serviço público.
Recentemente, a companhia aditivou um contrato de contínuos (office boys) para atuar, segundo o próprio Diretor Comercial, na crítica de faturas, trabalho esse realizado por assistentes administrativos. Ora, além do concurso feito para este cargo em 2024, ainda há cadastro positivo do concurso anterior, realizado em 2019! Além de imoral, essa atitude é irregular. De 2021 até agora, saíram 143 assistentes administrativos, e foram repostos apenas 127 nessa posição, ou seja, há pelo menos a necessidade de 16 novas contratações.
Os relatos no Linha Viva ressaltam a necessidade de um debate mais profundo sobre o futuro da Celesc e a importância de manter a qualidade dos serviços essenciais para a população. É fundamental que a sociedade civil e os trabalhadores se mobilizem para garantir que a Celesc permaneça uma empresa pública que priorize o bem-estar dos cidadãos e o fortalecimento do serviço público.
Em suma, a terceirização na Celesc é um tema que exige atenção redobrada, pois as consequências podem afetar não apenas os trabalhadores, mas toda a população catarinense. O desafio é garantir que a empresa não se afaste de sua missão de servir ao público, evitando o caminho da precarização e da privatização.