Há alguns dias estive em São Paulo e fui visitar o Memorial da Resistência, dedicado a preservar a memória das resistências e lutas pela democracia no Brasil, durante a ditadura civil-militar instaurada em 1964.
Localizado pertinho da Estação da Luz, em casarão vetusto, de apenas três pavimentos, construído no início do século passado para abrigar os escritórios e armazéns da Companhia Estrada de Ferro Sorocabana. A edificação, de beleza singular, paredes de tijolinhos e amplos janelões. Por trás dessa formosura, entretanto, escondem-se durante muito tempo os gritos desesperados de homens e mulheres. Porque ali funcionou o Dops, Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo, chefiado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, comandando uma equipe de torturadores dos mais truculentos deste país.
Desde 2009, o Memorial é um museu que busca preservar a história dos que lutaram contra a ditadura e sofreram os dissabores de serem presos naquele centro de repressão. Eu fui um deles. Passei ali alguns meses, desde o final de 1971 até meados de 1972.
A visita, que eu imaginava discreta e reservada, transformou-se num turbilhão de emoções quando, por feliz coincidência, cruzei com uma turma de estudantes universitários de História percorrendo o Memorial. Acompanhados pela professora, ouviram uma exposição sobre a ditadura. Estimulado por minha mulher, pedi licença ao grupo e falei com os estudantes. Contei um pouco de minha história para eles, do período que passei nas masmorras daquele centro de horrores. Narrei sobre o que foi o enfrentamento da ditadura e destaquei a crueldade daquele regime que, infelizmente, alguns defendem o retorno.
No local, há um enorme painel com centenas de nomes de pessoas que denunciaram torturas no Brasil. Meu nome está lá. Isto mobilizou o interesse dos estudantes, que me cercaram e me inundaram com indagações. Foi difícil controlar a emoção.
Antes de deixar o local, uma jovem, pequenina e frágil, veio até mim e perguntou se poderia me dar um abraço. Não consegui segurar as lágrimas.