Antropoceno no Pampa: crise climática e os desastres ambientais no RS

TRIBUNA LIVRE | Por Jaqueline Hasan Brizola, Pesquisadora do Programa de Pós-graduação em História da Ciência e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz. FIOCRUZ/SUL 21

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Há pouco mais de duas décadas, o químico Paul Crutzen e o biólogo Eugene Stoermer apresentaram ao mundo o conceito de antropoceno. Vencedor do prêmio nobel da química em 1995 , por seu estudo sobre a formação e decomposição do ozônio na atmosfera , Crutzen foi um dos defensores da ideia de que já vivemos em uma nova era geológica, onde a atividade humana deixa marcas permanentes no planeta. O tempo do Holoceno, onde a terra esquentou e os humanos conseguiram desenvolver civilizações mais ou menos estáveis, acabou. Estaríamos vivendo uma nova era, de catástrofes ambientais, calor extremo, inundações, doenças geradas pela crise climática, entre outros problemas decorrentes da nossa passagem pelo planeta. Entre especulações e definições científicas, o certo é que nós, humanos, temos uma clara tendência a pensar que “essas coisas” não são problemas nossos, que assuntos relacionados ao clima são teorias da conspiração, até que as rodovias para chegar às nossas cidades estejam completamente bloqueadas e a água dos rios, que poluímos sistematicamente, avance sobre nossas casas, nossos comércios e escolas. Esse é o cenário que vivemos nesse exato momento no Estado do Rio Grande do Sul. Teria o antropoceno chegado no pampa? 

Como toda nova teoria, as ideias sobre o Antropoceno geraram inúmeros debates e controvérsias. É certo que as atividades geológicas obedecem a uma escala própria e a um tempo longo, mas é inegável que a atividade predatória dos humanos, sugando os recursos naturais do planeta em grande escala e poluindo a atmosfera de forma constante não pode ser ignorada. Entre os defensores do antropoceno, encontram-se cientistas, ambientalistas que, observando as reações da natureza alertam para tragédias sem precedentes caso não repensemos para ontem o modelo energético predominante, caso sigamos ignorando as extremas desigualdades sociais e regionais, caso continuemos preocupados com os lucros e os juros sem olharmos com cuidado para o clima do planeta que agoniza. 

A situação de calamidade que vivemos no Rio Grande do Sul tende a se aprofundar nos próximos anos, mas não estamos sozinhos no caos. Sabemos que episódios de alagamentos, rompimento de barragens, calor extremo e chuvas intensas têm sido cada vez mais frequentes em diversas partes do Brasil e do mundo. Enquanto isso, uma parte da população segue ignorando o aquecimento global, o antropoceno ou as mudanças que ocorrem diante dos nossos olhos. 

Independente da forma que nomeamos essas mudanças, o fato é que ignorá-las não nos deixará a salvo. É preciso reconhecermos o problema, agindo de acordo com a gravidade da situação. 

Talvez, o primeiro passo seja elegermos representantes que estejam dispostos a buscar soluções reais para a crise climática. As eleições municipais ocorrerão em outubro próximo. Fica a dica!

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