A cena do cachorro tentando pegar o rabo é patética. Depois de cansar, o animal desiste, descansa um pouco, e em seguida repete o gesto mecânico sem conseguir alcançar o próprio rabo. Fazendo um paralelo com o que vem ocorrendo no governo Lula, parece que, com relação a Eletrobras (a maior empresa de energia da América Latina), a cena descrita se enquadra perfeitamente.
De maneira enfática, durante a campanha, Lula afirmou e depois repetiu, já eleito, que a privatização da Eletrobras foi um ato criminoso, um crime de lesa-pátria. Ou seja, algo muito grave! E que, obviamente, deveria ser revisto por qualquer governante comprometido com o desenvolvimento econômico e social do país.
Lula estava certo ao denunciar o referido crime. No entanto, parece que a preocupação atual do governo federal é com a queda da sua popularidade. Assim, reduzir a conta de luz por meio de um acerto com os especuladores que hoje dominam/gerem a Eletrobras é o mais interessante nesse momento. Depois, quem sabe, o governo voltaria a pleitear com contundência a participação na gestão da Eletrobras, de acordo com as ações que o estado brasileiro possui – cerca de 43%, mas com o poder de voto no Conselho de Administração de menos de 10%.
Essa atitude, um tanto pragmática, de curto prazo, contradiz substancialmente o discurso do presidente Lula. Falar de reestatização, então, chega a ser algo utópico considerando a perspectiva que o governo vem apontando – segundo a imprensa, na negociação com os detentores de poder hoje na Eletrobras. É claro que o fato de a empresa estar nas mãos de especuladores de plantão é de responsabilidade do desgoverno passado, mas a bomba caiu no colo do governo atual, que precisa deixar claro o que pretende fazer com a Eletrobras.
Repito, o que deseja realmente da maior empresa de energia da América Latina? Sem estar a serviço do povo brasileiro, dos maiores interesses da nação, a Eletrobras vai continuar apenas engordando os bolsos de meia dúzia, ao mesmo tempo sendo sucateada com a redução drástica e inconsequente de trabalhadores. Está na hora de o governo e as autoridades competentes pararem de correr atrás do próprio rabo e dar um basta nas atitudes irresponsáveis da atual administração da Eletrobras, que impõe graves riscos e problemas aos seus trabalhadores e ao setor elétrico brasileiro. Um país que não controla o seu setor de Energia, não tem soberania e não pode planejar o seu futuro!