Nas Olimpíadas de Paris, o ouro do Brasil é negro e tem nome de mulheres

Rebeca Andrade e Beatriz Souza conquistaram as primeiras medalhas douradas pelo país

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Reprodução/cbginastica

No Brasil, o ouro tem gênero e raça. Beatriz Souza e Rebeca Andrade foram as primeiras a conquistar medalhas douradas pelo país nas Olimpíadas de Paris, no judô e no solo da ginástica, respectivamente. Ambas as atletas são mulheres negras, têm origem humilde e são beneficiadas pelo programa Bolsa Atleta, criado pelo governo Lula em 2004.

Assim como elas, os demais medalhistas olímpicos pelo Brasil também acessaram o programa em algum momento. Apenas Gabriel Medina, do surf, e Larissa Pimenta, do judô, não fazem parte atualmente do Bolsa Atleta. 

Ellen Scherrer, mentora da página Feminismo Negro no Esporte e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ressalta o aspecto social do desenvolvimento do esporte no Brasil.

“Se pensarmos nas atletas negras que conquistaram medalhas, como Rebeca e Bia, são duas mulheres negras que vieram de projetos sociais. O Brasil ainda é muito carente de políticas públicas e financiamento no esporte”, comenta.

Além do aspecto social da prática esportiva no Brasil, os marcadores de raça e gênero chamam atenção. Ellen destaca que a conquista de medalhas pelas atletas é histórica e lembra que, por quase 40 anos, mulheres foram proibidas de praticar diversas modalidades de esportes no Brasil.

“Temos dificuldades para a inserção e aceitação das mulheres e isso traz consequências atuais. O Brasil também é um país em que a violência racial está em pauta todos os dias. As duas medalhas de ouro, conquistadas por Rebeca Andrade e Beatriz Souza, romperam barreiras significativas, mostrando as potências da negritude brasileira”, avalia a pesquisadora.

Inspiração

Durante muitos anos, mulheres negras não competiam na modalidade de ginástica artística brasileira. Isso mudou com Daiane dos Santos, a primeira mulher negra a ter grande destaque e a receber uma medalha de ouro no mundial de ginástica, em 2003.

Olívia Pilar, escritora e doutoranda em comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressaltou que, a partir do momento em que uma mulher negra mostra que é possível, abre um mundo de possibilidades. 

“Não só tem um caráter representativo, mas também cria novos imaginários sobre o que é ser uma mulher negra. Então, mesmo que a Daiane dos Santos não tivesse sido uma referência para a Rebeca Andrade, já teria modificado o imaginário popular. Rebeca Andrade está fazendo o mesmo percurso agora, e com um alcance mundial”, comenta.

Olívia ressalta que é preciso, além de investimentos, dar oportunidades e acreditar no potencial das atletas negras.

“Viola Davis disse, ao receber o prêmio de melhor atriz no Emmy, que a única coisa que separa mulheres negras de outras pessoas é a oportunidade. É uma forma de interpretar, porque é muito importante e significativo que os dois primeiros ouros do Brasil nos Jogos Olímpicos de 2024 tenham sido de duas mulheres negras. Elas mostraram que o talento sempre existiu, mas é necessário investimento”, conclui a escritora.

Por Natália Andrade. Edição: Ana Carolina Vasconcelos. Texto Original: Brasil de Fato: https://www.brasildefato.com.br/2024/08/08/nas-olimpiadas-de-paris-o-ouro-do-brasil-e-negro-e-tem-nome-de-mulheres

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