Amanhã, dia 7 de fevereiro, é o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas. Instituída em 2008 para homenagear Sepé Tiaraju, um dos cerca de 3 milhões de indígenas assassinados pela invasão europeia, a data visa conscientizar a população sobre a verdadeira história do Brasil e a quem de fato pertence o território no qual vivem. Mas será que a luta é somente dos povos indígenas, como sugere o nome da data?
“Quando a gente não tiver mais floresta e não tiver mais água limpa pra beber, eu quero ver se as pessoas vão comer ouro.” Enfatiza Aílton Krenak, pensador, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro pertencente à etnia indígena crenaque. A fala de Aílton se relaciona à importância dos povos indígenas na construção e manutenção das florestas e biomas, preservando sua fauna e flora. Foi assim que construíram a maior floresta tropical do mundo, a Amazônica, conhecida como ‘pulmão do planeta’.
A luta não pode ser só dos povos originários justamente porque não depende só da vontade deles em preservar o ecossistema, mas sim da colaboração de todos em resgatar e respeitar o território indígena, essa é a melhor forma de combater o aquecimento global, uma consequência que afeta a todos.
Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em 1953 no município de Itabirinha, no estado de Minas Gerais, região do Médio Rio Doce. Aos dezessete anos se mudou para o estado do Paraná , onde se tornou produtor gráfico e jornalista. Na década de 1980, direcionou seu foco exclusivamente ao movimento indígena, fundado em 1985, o Núcleo de Cultura Indígena, uma organização não governamental com o propósito de promover a cultura indígena.
A demarcação indígena é uma das principais lutas que a população precisa reivindicar, além de amenizar os efeitos do aquecimento global, devolver o território roubado é o mínimo de reparação histórica. Krenak afirma que: “O entendimento do Dia Nacional de Luta não significa que os indígenas têm que ir pra política dos brancos. Significa que as instituições do Estado têm que respeitar os direitos desses povos, inclusive deles continuarem vivendo dentro da floresta, como os Yanomami, por exemplo. Os Yanomami não têm que sair de dentro da floresta, ceder o lugar deles pros garimpeiros, e vir fazer política em Boa Vista, em Manaus ou em Brasília. Eles têm que ter a integridade deles respeitada. A soberania dos Yanomami é dentro da floresta, não em Brasília.
O genocídio indígena promovido pelos europeus não parou em uma ou duas gerações, mas segue exterminando indígenas e sua cultura através dos garimpos ilegais e grandes latifundiários,”quando Dom João VI desembarcou no Brasil em 1808, ele assinou um decreto de extermínio contra os Botocudos da Floresta do Rio Doce. Somos nós, é o meu povo, meus parentes. Eu já nasci com um decreto de extermínio. Então não teve essa de despertar para a luta. Se eu não tivesse despertado eu já estava morto”, lamenta Krenak.
O pensador ressalta que a crise não é só climática, mas de uma sociedade estragada pela monocultura de tudo: “Assim como a questão do clima no planeta foi atingindo picos de alto risco, outros aspectos da ecologia humana, da vida, da cultura também, têm passado por uma espécie de erosão. Nós, os humanos, na verdade, estamos correndo um risco grande de perder não só as nossas diversas culturas lindas, expressões, mas de perder também a nossa capacidade de cognição, de compreender, de entender o que está acontecendo ao nosso redor. Nós estamos ficando burros”.
Informações: O Tarde Nacional – Amazônia, Brasil de Fato, Agência Brasil.
Indicação cultural:
A dica desta semana é o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak, uma crítica à modernidade ocidental e ao conceito de humanidade que exclui povos considerados pelos brancos como ‘não modernos’. Krenak, líder indígena brasileiro, defende que a humanidade moderna é desumanizada e que o conceito de desenvolvimento sustentável é um mito que legitima a depredação da natureza.
O filósofo faz uma reflexão profunda sobre a crise da modernidade e a necessidade de uma mudança de paradigma em relação à natureza e à diversidade cultural. Krenak oferece uma perspectiva indígena sobre essa crise e defende a importância de uma ecologia de saberes para promover uma forma de vida mais sustentável e respeitosa com a diversidade cultural.
Destaques da obra:
-Conceito de humanidade: O autor defende que o conceito de humanidade é eurocêntrico e exclui povos não-brancos.
-Desenvolvimento sustentável: Krenak considera o conceito de desenvolvimento sustentável um mito que legitima a depredação da natureza.
-Ecologia de saberes: O autor defende a importância de uma ecologia de saberes que integre as experiências cotidianas e oriente as escolhas humanas.
-Desafio à modernidade: Krenak desafia a modernidade a reconsiderar seu relacionamento com a natureza e a promover uma forma de vida mais sustentável e respeitosa com a diversidade cultural.