Mariana Franco e o feminismo transinclusivo

Nascida em Jaraguá do Sul, Mariana é formada em Serviço Social e estudante do Mestrado em Serviço Social da UFSC

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Em 28 de fevereiro o Sinergia assinou a Carta de Apoio ao Feminismo Transinclusivo, pois entende que o feminismo precisa ser uma luta de todes nós. Em 4 de março, o Sinergia realizou formação em letramento de gênero, aberto à comunidade, ministrado por Alê Mujica, médique e psicanalista. 

Como o tema do dia Internacional da Mulher (8/03) em Florianópolis será “TRANSformando luto em lutas”, o Sinergia convidou a assistente social Mariana Franco para falar sobre o tema de sua coluna do 8M no Portal Catarinas e outros aspectos que envolvem a perspectiva de gênero na sociedade. 

No dia 27 de fevereiro, o Portal Catarinas publicou um texto escrito por Mariana. Na publicação, a assistente social destaca a importância de promover o feminismo interseccional no 8M, e convoca todes à inclusão e à diversidade no ato. 

Acompanhe a seguir a entrevista: 

LV: Em relação à sua coluna de 27 de fevereiro no Portal Catarinas, sobre a importância de um feminismo transinclusivo no 8 de março, de que forma você apresentaria essa pauta às pessoas totalmente imersas na cultura misógina, patriarcal e binária?

Mariana: Sempre acredito no diálogo, na conversa, na sororidade de expor situações cotidianas para as pessoas. Realizo isso como uma forma de educação popular, principalmente em pautas sobre gênero, nas quais as pessoas possuem dificuldades de compreensão. Eu acredito no movimento feminista como de fato transformador na sociedade e principalmente um movimento atento às manifestações plurais existentes na sociedade. É um movimento voltado para a luta emancipacionista, na denúncia do capitalismo. Apresentar para as pessoas algumas questões é extremamente difícil, mas estamos evoluindo muito na conscientização da sociedade sobre o direito de ter direitos.

LV: De que formas podemos combater a ideologia de gênero que existe – a heteronormativa cisgênera? 

Mariana: A heterossexualidade é compulsoria desde o nascimento assim como a cisgeneridade. Dentro do próprio movimento LGBTQIAPN existem pessoas heterossexuais (ex: mulheres trans que se relacionam com homens cis ou trans). A grande preocupação da compulsoriedade das sexualidades é das identidades e o respeito ao indivíduo na sua formação, onde a pessoa não apresenta o conjunto de regras impostas pela sociedade e ocasiona a homofobia, a transfobia, a lgbtfobia em um todo. A partir do momento que pensarmos uma sociedade sem obrigatoriedade de rótulos, conseguimos pensar em uma sociedade com respeito e igualdade. Não tem como falarmos em uma sociedade sem discriminação entre homens e mulheres se não falarmos da imposição do binário de gênero, assim como de sexualidades. Essas questões refletem nas diferenças salariais, nas questões de violência e assédio. O patriarcado se beneficia do binarismo, e de outros mecanismos, para continuar perpetuando suas ações contra o ser mulher na sociedade. Obviamente que quem critica ou pensa em enfrentar essas questões acaba recebendo as punições, não é à toa que hoje na história brasileira se tem o maior número de projetos de leis anti-trans no Congresso Nacional.

LV: O slogan do 8M Florianópolis será “TRANSformando luto em lutas”, em alusão ao luto pela violência feminicida. Você acha que, de certa forma, o ódio da sociedade sobre mulheres trans e travestis é “em dobro” em relação à mulheres cis? (visto que sofrem pela misoginia e pela identidade de gênero)

Mariana: A violência de gênero para com mulheres trans e travestis é relacionada à recusa do privilégio de se ter nascido homem. A violência com homens trans e transmasculinos é a necessidade de reafirmação da identidade dominante, totalmente relacionada ao falocentrismo. Pessoas trans e travestis são violentadas e acusadas diariamente de agredir ou enfraquecer os alicerces da sociedade, baseando-se principalmente na família, e não podemos esquecer que a família é a base e continuidade do patriarcado. Acredito que você ser mulher na sociedade, independente da cor, raça, identidade, sexualidade, classe, pessoa com deferência ou não, é estar a mercê da sociedade das violências que são culturais na sociedade. Obviamente que você ser trans e receber o preconceito de uma outra mulher é mais dolorido.

LV: Na bibliografia dos cursos de universidades como a UFSC são raras as referências de autoras cisgenero, e de não cis são ainda mais raras. Como trazer a discussão ao senso comum, se nem na academia as mulheres são levadas em consideração (quando comparado aos homens brancos cisgêneros)? 

Mariana:  A produção acadêmica e científica produzida por pessoas trans e travestis está aumentando anualmente conforme a presença de corpos trans frequentam a universidade. Essas/esses pesquisadores colocam em discussão tudo aquilo que já foi produzido sobre nós por pessoas cis, e agora, apresentam a necessidade revisão dessas teorias e estudos. Deixamos de ser corpos interlocutores do saber para corpos produtores do saber, e existe muita dificuldade na academia porque a cisgeneridade não quer ser questionada (ainda mais na academia).

LV: O que você diria sobre a importância de um feminismo interseccional que defenda a pauta anticapitalista, antirracista e transinclusiva? 

Mariana: Bell Hooks já disse que o feminismo é para todo mundo. A conscientização de uma sociedade com equidade e com respeito às lutas, no combate do fascismo, na luta contra o capitalismo e o neoliberalismo, são questões que em transversalidade nos faz cidadãs ou não de direitos. A partir do momento que compreendermos o que é nossa classe, compreendemos o que é nossa luta. Acredito que uma luta não pode ser por etapas de conquistas de direitos, mas sim universais

LV: Algum último recado/convite para o 8M?

Mariana: Participar do evento é construir uma sociedade com direitos para as mulheres e, principalmente, denunciar ao Estado sua omissão na defesa do direito de ser mulher com direitos, principalmente o direito à vida no Brasil.

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