Sobreaviso moral: um fardo injusto para os eletricistas

TRIBUNA LIVRE | Por Jeferson Reis, trabalhador da Regional de Concórdia da Celesc e dirigente do STIEEL

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Quem trabalha em cidade pequena sabe e entende como funciona o famigerado sobreaviso moral. Na minha opinião, é uma grande imoralidade, por mais de vinte anos vivenciei esse dilema na pele. 

Muitas vezes o telefone tocava durante a madrugada e alguma coisa me obrigava a atender. Embora uma parte de mim relutasse, dizendo que eu estava de folga, a outra parte se sentia na obrigação de atender o telefone para receber a notícia que teria de trabalhar, cumprindo o meu dever de “herói anônimo da sociedade”, mesmo durante a minha folga. 

Ao questionar os gerentes sobre o fato, a resposta era única: “está no seu contrato individual de trabalho, você precisa atender, trabalhamos com algo essencial à sociedade”. Aqui temos dois pontos a considerar. Primeiro: essa resposta soa como um assédio moral inimaginável. Segundo: se está no meu contrato de trabalho, por que não recebo as horas de sobreaviso para ficar à disposição da empresa por vinte e quatro horas? 

Não quero causar uma rebelião entre os eletricistas, até porque vejo tudo isso como uma questão de bom senso e uma decisão individual de cada um, mas vejam que hoje não existe evento climático que não possa ter previsibilidade com pelo menos uma semana de antecedência, então me pergunto: é tão difícil montar equipes de sobreaviso para esses dias de intercorrência? 

Ah! Lembrei de algo fundamental: para montar equipes é necessário ter mão de obra, mas parece que a Celesc está longe disso. Acho que a Diretoria de Distribuição esquece de planejar e – principalmente – de contratar. Na visão de alguns, o quadro parece estar completo, mas está muito distante disso: faltam trabalhadores em todas as áreas da empresa! 

Enquanto isso, continuamos na saga dos telefonemas nas horas de folga, que causam grande constrangimento para todos, e muitos eletricistas se sentem DESCONFORTÁVEIS em não atender o chamado, muitos com medo de represálias e alguns com receio de julgamentos morais. 

Mas a responsabilidade não é nossa, a culpa pela falta de pessoal é da Diretoria da Celesc, que tenta tocar a empresa com uma visão privatista, querendo apenas gerar e pagar lucros exorbitantes para acionistas e jamais valorizando os trabalhadores. Seria essa a tal “Celesc na veia”? – política de “fazer mais com menos”, de “ir além do óbvio”? 

Cuidado com essas premissas que são, no fundo, preparação para uma futura privatização. Como no setor privado, o trabalhador sofre constantes ataques de assédio e pressão por parte da empresa, estamos atentos e conhecemos nossos limites e nossos deveres, mas também conhecemos nossos diretos e sabemos onde cobrá-los. 

Enquanto os empregados vão se sentindo na “obrigação moral de atender bem” a sociedade, continuamos da mesma forma: saem dois eletricistas no PDI e entra nenhum, se aposentam três e ninguém é contratado… É necessidade urgente reestruturar as Regionais que estão cada vez mais sobrecarregadas com poucos trabalhadores e muitas tarefas! Realmente essa Diretoria não conhece a nossa realidade – ou finge não conhecer..

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